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Emancipação da América Colonial Hispânica

O processo emancipatório da América Colonial Hispânica foi marcado por um discurso libertário, que na prática visava romper com os seculares privilégios oriundos do período mercantilista, tais como: cobrança de impostos, proibição de negociar e produzir livremente e a obrigação dos navios que zarpavam do Novo Mundo com destino à Europa obrigatoriamente passarem por portos espanhóis. Tal movimento foi promovido pela chamada elite criolla, através da qual procurou-se rearticular, em novas bases, os vínculos com o mercado europeu, sem alterar a sua substância e o seu caráter de dependência. Isto ocorreu em grande parte, porque o capitalismo europeu, ingleses à frente, não tinha interesse na alteração das estruturas políticas, comerciais e de classe do Novo Mundo, de forma que pudessem atingir seus objetivos comerciais na região. O processo de independência latino-americano não representou uma ruptura no poder das oligarquias locais. Motivado por fatores internos e externos, este processo buscou romper com o domínio colonial espanhol sobre a região.
Alguns dos fatores que influenciaram as revoltas emancipatórias foram as idéias iluministas européias e a independência das colônias inglesas da América do Norte. Outros fatores foram determinantes para que o processo de independência obtivesse êxito, tais como, os conflitos decorrentes da ascensão em 1808 de Napoleão Bonaparte ao poder na França; a abdicação, forçada por ele, dos Bourbons na Espanha; a conseqüente divisão e acefalia do império espanhol. A luta emancipatória pode ser dividida em duas partes, a primeira com início em 1810 com a expulsão do Vice-Rei de Buenos Aires, o que iria irradiar a ânsia por independência por todos os lados, primeiramente no Chile e Paraguai em 1811. Porém, a pulverização dos poderes locais, a fragmentação política do continente, as rivalidades pessoais, a desunião dos exércitos rebeldes e ainda a falta de apoio da Igreja Católica e da elite criolla, determinaram o fracasso das primeiras iniciativas de emancipação, em 1815 os espanhóis já haviam reconquistado todos os territórios que haviam se rebelado. Esta reconquista refletia a restauração da dinastia dos Bourbons ao trono espanhol, na pessoa do intransigente Fernando VII, que junto com Luís XVIII na França, representou uma guinada reacionária nas perspectivas de independência da América Espanhola. Esta tentativa de restaurar a velha ordem colonial não durou muito, a truculência de Fernando VII fez com que as colônias americanas reclamassem novamente a emancipação. Apoiados pelos ingleses, Simon Bolívar no Noroeste da América do Sul e San Martín na região do Prata e vizinhanças, lideraram as revoltas que culminaram com a independência da grande maioria das colônias e em 1826, com a rendição da guarnição de Callao, praticamente encerrava-se a era colonialista ibérica no Novo Mundo.
A sustentação diplomática da emancipação foi garantida pelo apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos que, embora vivendo estágios diferentes do capitalismo, se uniram na política antimonopolista e no desejo de ampliar seus mercados. O fato mais significante na América espanhola pós-emancipatória foi a divisão do continente em vários países, a que alguns estudiosos chamaram de “balcanização”. Tal fragmentação se deu por uma correlação de fatores, os principais foram: o interesse inglês em exercer mais facilmente sua hegemonia comercial, o que seria mais facilmente atingido em um continente dividido e debilitado; inexistência de uma fração hegemônica das elites locais, o que impossibilitava a aglutinação política em um único centro de poder; a existência de divisões tribais e lingüísticas; populações rarefeitas; comunicações difíceis e falta de uma integração de mercados. Todos estes elementos contribuem para que os países que nascem do processo de independência, saiam do período colonial sem um Estado forte o suficiente para manter a ordem interna, acarretando uma progressiva militarização das instituições, a submissão das massas populares ao férreo domínio da elite criolla e a tendência à solução violenta nos impasses políticos. Neste momento, surge um movimento que se tornaria uma característica singular dos regimes políticos dos países da nova e independente América espanhola, o caudilhismo.
No vácuo de um poder político institucionalizado posterior á independência, diversos líderes locais assumiram o papel de porta-vozes das diferentes frações da classe dominante. Além disso, o caudilhismo se caracterizava pela personalização da política na figura do chefe, que com seu discurso ideológico, sua capacidade de arregimentar forças, proporcionando que seus caprichos e arbítrios se realizassem, acima das leis e instituições. Neste âmbito se reúnem o “barbarismo” e a “incapacidade política”, marcas registradas de uma elite em nome da qual foi realizada a independência e que se mantinha no poder com a conivência dos interesses do capitalismo internacional. Mesmo com deficiências e limites, a fracionada América espanhola, a partir de meados do século XIX, teve condições de evoluir rumo à institucionalização de Estados nacionais. Impulsionado mais uma vez pelos interesses capitalistas internacionais, a América Latina se modernizou no aspecto estrutural com a construção de estradas, linhas férreas, portos, usinas, etc; e no âmbito político também, com a institucionalização das tradicionais fórmulas liberais: governos presidencialistas, órgãos representativos, Constituições e partidos políticos.

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