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Campanhas Eleitorais na América Latina

A América Latina não possui muita tradição eleitoral se comparada ao Velho Mundo, todavia ao compararmo-la com outras regiões como a África e o Oriente Médio, ela passa a ser vista como um exemplo a ser seguido. Temos então alguma experiência, mas ainda não estamos totalmente seguros, nossas democracias representativas ainda podem sucumbir a projetos políticos populistas ou a governos autoritários. Fazendo uma analogia, politicamente a América Latina assemelha-se a uma pessoa em sua fase juvenil, que já pode tomar decisões, mas ainda não é totalmente independente dos pais, o problema é que somos órfãos e temos de aprender sozinhos. Isto se deve ao nosso passado, toda a região passou séculos sob o colonialismo europeu e neste período não havia qualquer meio de representatividade, os dirigentes eram nomeados na capital do império e designados para assumir seus cargos na colônia. Esta situação permaneceu até o século XIX, quando os primeiros países se tornaram independentes. Iniciava-se então a nossa experiência democrática, que na sua gênese era deveras problemática. O sufrágio estava longe de tornar-se universal, a política era dominada pelas oligarquias do período colonial, as eleições não eram transparentes, havia uma série de problemas que atravancavam o processo eleitoral. Em muitos países a democracia por sucessivas vezes foi usurpada de seus povos por golpes militares e pseudo-revoluções, o cenário político geralmente eram conturbado e alternava períodos democráticos e autoritários. A situação na região adquiriu uma certa estabilidade a partir da década de 1980, quando uma corrente de redemocratização varreu a região e derrubou os regimes ditatoriais que duravam décadas (exceção de Cuba). Após este período a América Latina tem procurado fortalecer a democracia, e as eleições desempenham um papel fundamental nessa busca. Ao nos confrontarmos com uma campanha eleitoral podemos ter várias percepções distintas, porém nunca nos ocorre que ela seja algo simples e fácil. Todo processo eleitoral é complexo e exige uma série de preparativos, estes são fundamentais para que um candidato tenha êxito em sua empreitada rumo ao Poder. Por muito tempo a cena política latina foi dominada por “políticos autodidatas”, que possuíam uma visão amadora das eleições, acreditando em noções e preceitos adquiridos através de sua experiência pessoal. Neste contexto não era difícil de se encontrar práticas danosas às instituições políticas e representativas, como o “voto de cabresto”, a adulteração de resultados, o “voto fantasma” ( utilização do título eleitoral de pessoas já falecidas ), entre outras. Estes procedimentos eram comuns até meados do século passado, quando a partir da década de 1960 a crescente utilização dos meios de comunicação para a propaganda e o debate político, inovações tecnológicas, diversificação da sociedade e consequentemente de suas demandas, exigiu uma maior profissionalização do atores envolvidos diretamente no processo político. Essa transformação iniciou-se pela América do Norte, mais precisamente nos EUA, mas ao longo dos anos se alastrou por todo o continente. No princípio como havia um déficit de pessoas qualificadas para encarar essa transformação, optou-se por “importar” especialistas em campanhas eleitorais dos países mais desenvolvidos. Isto regularmente não era garantia de sucesso eleitoral, pois na maioria das vezes essas pessoas, pouco ou nada sabiam das peculiaridades regionais e, erroneamente, utilizavam métodos e técnicas que davam certo em seus países de origem, mas não nesses, pois eram diferentes não somente politicamente, mas cultural, econômica e socialmente. Demorou um certo tempo para que surgisse na região uma gama de indivíduos capazes de assumir as demandas de uma campanha política moderna. Hoje, isto já não é problema para um candidato latino-americano. Já existe toda uma infra-estrutura para prestar-lhes suporte, e as campanhas eleitorais cada vez mais são dominadas pelos “profissionais” e menos pelos “autodidatas”. Parte do sucesso de uma candidatura se deve a uma boa preparação. Esta é iniciada, antes mesmo do candidato lançar-se a um determinado cargo. São realizadas pesquisas com o objetivo de determinar quais são as reais necessidades da população, que perfil de candidato o eleitorado anseia, como é composta a sociedade, etc. Com base nesses dados os estrategista da campanha pode determinar quais serão as ações adotadas, visando a eleição de seu candidato. Salvos os casos onde o candidato entra para a disputa eleitoral com outro objetivo, como o de fortalecer o seu nome ou legenda por exemplo, o foco necessariamente é a vitória. Antigamente, os partidos possuíam um papel preponderante na determinação das diretrizes de uma campanha, estando o candidato preso a compromissos partidários que mesmo após ser eleito orientavam suas ações. Com a falência dos meios de comunicação partidários, os constantes problemas organizacionais e à medida que os eleitores passaram a se fixarem mais na imagem do candidato do que nas cores de um partido, o candidato passou a ter maior autonomia diante de seu partido, todavia, ele passou a sofrer um outro tipo de pressão que também influência nas suas ações, a opinião pública. Neste contexto, o consultor político torna-se o maior colaborador de um candidato, quando este deseja interagir de forma positiva com a opinião pública. Os candidatos disputam a atenção do eleitorado, que a cada dia se torna mais exigente. Através dos meios de comunicação, sobretudo pela mídia televisiva, o eleitor tem acesso a uma ampla quantidade de informes políticos diariamente, podendo hoje assistir ao vivo os principais eventos políticos de seu país sem sair de sua casa. O eleitor é introduzido então, de maneira indireta, no seio da arena política, onde são travados os debates, e de acordo com seu interesse pode aprofundar seu conhecimento através dos jornais, do rádio e da Internet. O eleitor latino-americano, hoje já não está totalmente alheio ao que se passa no cenário político. Pois passou de uma posição subalterna, de coadjuvante a protagonista do processo eleitoral. Em uma eleição contemporânea não são as instituições, os partidos, os candidatos, que estão no centro das atenções, é o eleitor que se encontra nesta condição. Porém o eleitorado latino-americano, ainda não está maduro o suficiente para saber distinguir um discurso virtuoso de um vicioso, ele ainda é enganado por campanhas “ocas”, onde as promessas são várias e os compromissos realizáveis são poucos. Isto se deve a um problema crônico da região, o baixo nível de escolaridade da população e a falta de organização da sociedade. Porém isto não diminui os feitos que a América Latina realizou nas últimas décadas no âmbito da política, e caso o viés não se altere, a alguns países da região tem potencial de passar do estágio de subdesenvolvimento para o de países plenamente desenvolvidos.